top of page

Por que as Normais Climatológicas ainda importam? - Parte 2

Depois de compreendermos no post anterior o papel das Normais Climatológicas como referência para o comportamento médio do clima, é importante lembrar que essas médias não significam estabilidade. Das flutuações em torno das médias históricas surge o importante conceito de Variabilidade Climática, que desta vez será um dos principais conceitos que serão abordado.


O Clima certamente não é estático e varia por diversas razões diferentes, tanto internas quanto externas ao próprio planeta, mas esse conceito específico diz respeito em especial a essas variações em relação a uma média de uma variável em questão. Você pode sentir isso por experiência quando percebe que os meses mais chuvosos do ano na sua cidade não estão tão chuvosos como de costume em um ano qualquer, enquanto que o inverno esteve mais rigoroso em relação ao que você conhece e assim por diante.


Quando ligadas ao conceito de Variabilidade Climática, as médias contidas nas Normais Climatológicas que vimos antes também servem como referência para avaliar o comportamento das variáveis em uma região qualquer. Podemos então comparar os dados de um período em particular em relação a essas médias e quantificar o quanto eles distanciam-se ou não delas pelas suas diferenças. Os resultados deste tipo de operação são chamados de Anomalias, um dos conceitos mais importantes de todos em Climatologia.


Apesar do nome, o conceito de Anomalias não busca representar especificamente algo "estranho" ou "anormal" por si só e é mais prático do que pode parecer. É um conceito que costuma fazer participação frequente em qualquer noticiário, quando você ouve que um mês foi mais ou menos chuvoso do que o esperado. É tentador pensar que o "esperado" foi uma previsão feita por algum órgão de Meteorologia, mas na verdade é justamente a média histórica de precipitação daquele mês e provavelmente a própria Normal Climatológica em si, descrita e tabelada a partir dos dados de uma estação meteorológica no período de referência mais recente definido pela OMM.


O cálculo de anomalias nos permite ver características do comportamento climático que estavam "escondidas" nos dados brutos de forma mais clara, mostrando períodos em que as condições realmente representam algo estranho e fora do normal, como o nome indica, bem como momentos de uma certa normalidade quando as coisas vão de encontro com o padrão médio. 


Os gráficos na figura abaixo vão nos ajudar a entender melhor esses conceitos através do regime de precipitação anual em Manaus (AM) e suas variações em relação à média histórica. O primeiro gráfico (a) representa o volume de precipitação anual entre 1991 a 2024 em cada barra, sendo que a linha tracejada indica o valor da Normal Climatológica de 1991 a 2020 exatos 2362,4 mm. Já o segundo (b) representa as anomalias anuais de precipitação, ou seja, as diferenças entre o volume de precipitação de cada ano e a Normal Climatológica, sendo que valores negativos mostram anos com volume de chuva abaixo da média histórica e vice-versa.

Precipitação anual (a) e Anomalias de Precipitação (b) em Manaus entre 1991-2024. Os dados são da estação meteorológica do INMET (82331).
Precipitação anual (a) e Anomalias de Precipitação (b) em Manaus entre 1991-2024. Os dados são da estação meteorológica do INMET (82331).

Olhando para o gráfico superior (a), a primeira coisa que você pode perceber é que nenhum dos anos chegaram ao valor exato da Normal, o que não é nenhum absurdo quando consideramos que esse valor é resultado de uma média aritmética de 30 anos. Alguns anos chegaram perto dela, no entanto, como em 2007 e 2023. Outros destoam demais da média e ficaram muito acima, como em 2008 e 2020, enquanto anos como 2001 e 2015 ficaram bem abaixo. 


Uma outra forma de encarar essa variabilidade está no gráfico inferior (b), que representa as anomalias de precipitação resultantes da diferença entre o volume de precipitação de cada ano com o valor da Normal Climatológica representada pela linha pontilhada no gráfico superior. A partir daí podemos ver melhor como o comportamento pluviométrico oscila em torno da média histórica ao longo dos anos e nos permite identificar anos extremos e períodos prolongados com volume de chuva acima ou abaixo do normal. É o caso do período de 2001 a 2006, por exemplo, que ficou abaixo da média em todos os anos e ainda inclui a famosa Seca de 2005 a maior da história da Amazônia até então (Marengo et al., 2008). 


Podemos aproveitar o caráter quantitativo das anomalias e entender melhor a disparidade dos anos extremos em relação ao padrão normal. Em relação aos anos mais chuvosos de 2008 e 2020, podemos dizer que os volumes de precipitação totais foram respectivamente de exatos 794,7 mm e 772,2 mm acima da média histórica. Por outro lado, também podemos dizer que os anos mais secos de 2015 e 2001 tiveram exatos -590,2 mm e -564 mm abaixo da média.


É por estas e outras análises que o conceito de anomalia é tão crucial para compreender de maneira mais objetiva a Variabilidade Climática de qualquer lugar do mundo e do próprio planeta como um todo. Vamos avançar nessa direção na terceira e última parte desta série e entender um pouco mais de como as anomalias nos ajudam a entender melhor o cenário climático atual.

Comentários


Meteonorte Meteorologia LTDA
Impact Hub Manaus, Sala E, Box 290.
Av. Ephigênio Salles, 1299. 69060-020
Manaus, Amazonas, Brasil.

 
Fale com a Meteonorte
meteonorte@meteonorte.com
(92) 99520-5744

White on Transparent.png
  • LinkedIn - Círculo Branco
  • Facebook - Círculo Branco
  • Instagram - White Circle
  • Telegram
bottom of page