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O papel do meteorologista no Seguro Rural Paramétrico

A Meteorologia e a Ciência de Dados Climáticos estão assumindo uma relevância cada vez maior para o mercado de seguros do país, onde a previsão e a gestão de riscos têm papel fundamental. À medida que os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e mais intensos, é fundamental compreender e antecipar as condições climáticas do passado, presente e futuro para oferecer proteção adequada aos segurados. Nesta nova edição da coluna Carreiras, no Blog da Meteonorte, vamos falar sobre o papel do meteorologista para a evolução do seguro rural paramétrico no Brasil.


O Seguro Rural e o Seguro Paramétrico: qual é a diferença


O Seguro Rural é um grande mecanismo de proteção e desempenha um papel fundamental na estabilidade do setor agrícola como um todo, especialmente nas grandes regiões produtoras do país. Historicamente, o Norte-Nordeste sempre esteve e está muito abaixo do nível de cobertura de lavouras que há no Sul-Sudeste e Centro-Oeste. De acordo com o Relatório de 2022 do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), o Norte responde por apenas 0,8% do total de produtores rurais beneficiados pelo PSR, enquanto o Sul concentra 64,7% e é a região de maior demanda no país.


O Seguro tradicional oferece cobertura para danos físicos às lavouras causados por eventos meteorológicos e climáticos como granizo, seca, vendavais, inundações entre outros. Quando um sinistro acontece, os produtores precisam comprovar os prejuízos por meio de vistorias e análises detalhadas para receberem a indenização. Em alguns casos, há até mesmo uma disputa entre seguradora e segurado em questão de comprovar se um evento meteorológico realmente aconteceu ou não, o que muitas vezes demanda a elaboração de um laudo meteorológico emitido por um meteorologista.


Por outro lado, o seguro rural paramétrico é uma modalidade mais recente e inovadora que vem ganhando espaço no mercado brasileiro, além de ser mais comum em países da Europa e dos Estados Unidos.


Esse tipo de seguro é inteiramente baseado em parâmetros objetivos e pré-definidos em termos de índices climáticos, seja por meio de dados de estações meteorológicas, satélites ou reanálises climáticas.



Os gatilhos do seguro são estabelecidos com base em estudos climáticos e análises estatísticas, relacionando eventos climáticos extremos a possíveis perdas nas safras.Outra diferença fundamental entre o seguro rural tradicional e o seguro rural paramétrico é o método de determinação das indenizações.


Enquanto o seguro tradicional avalia os danos físicos efetivamente ocorridos com a visita de um perito ao local, são os gatilhos do seguro paramétrico que vão determinar o seu acionamento ou não, de forma rápida e intuitiva para todos os agentes envolvidos independente dos prejuízos reais sofridos pelos agricultores em suas lavouras.


Os Índices Climáticos e o Seguro Rural Paramétrico


A base fundamental que ergue o seguro rural paramétrico, como o próprio nome já sugere, são os índices climáticos. É da análise estatística consistente dos índices climáticos de interesse que surgem os parâmetros objetivos do seguro. Tudo isso é feito de forma transparente e com dados confiáveis, além de contar com a participação ativa do segurado para confeccionar o melhor produto possível que atenda as suas necessidades de cobertura.


Para essa tarefa em especial, o trabalho do meteorologista torna-se essencial para segurados, seguradoras e corretoras. Com tantos índices climáticos disponíveis, contar com um profissional da área é a diferença entre um seguro mal formatado para um seguro mais preciso. Os índices podem ser desde simples séries de precipitação mensal acumulada em um período crítico para as culturas agrícolas soja, milho, trigo e por aí vai — aos índices de dias secos e dias secos consecutivos.

A escolha do índice adequado depende das características específicas de cada região, cultura agrícola e do risco climático. Um cafeicultor do sul de Minas, a principal região produtora de café do país, pode ter interesse em contratar o seguro paramétrico para se proteger dos riscos das baixas temperaturas apenas entre os meses de Maio a Agosto, por exemplo.


O trabalho do meteorologista então é de estabelecer quais são os parâmetros que vão fazer sentido para o produtor definir o seguro que seja mais adequado ao seu caso. Tudo precisa ser bem definido e muito bem acordado entre todas as partes para evitar dor de cabeça no futuro: os dados que são utilizados, os índices e os parâmetros do seguro.


O Seguro Rural Paramétrico no Brasil


O seguro rural paramétrico vem ganhando destaque cada vez maior nos últimos anos como uma solução inovadora e eficiente para proteger os agricultores contra os riscos climáticos. Com o aumento da frequência de eventos extremos e os prejuízos cada vez mais altos no campo, essa nova modalidade de seguro vem se mostrando como uma alternativa viável ao seguro rural tradicional.


No entanto, vale ressaltar que o seguro rural paramétrico ainda está em estágio de desenvolvimento e até mesmo de experimentação ativa no Brasil. Apesar do potencial promissor, é necessário um contínuo aprimoramento e adaptação aos diferentes contextos regionais e culturas agrícolas do país. Cada caso é único e a colaboração entre seguradoras, corretoras, meteorologistas, agrônomos e outros profissionais é fundamental para aperfeiçoar a implementação da modalidade ao longo das regiões do país.


Com a crescente conscientização sobre os riscos climáticos e a necessidade de proteção financeira no setor agrícola, o seguro rural paramétrico tem um papel de grande relevância a desempenhar. Ao proporcionar uma cobertura mais ágil, transparente e adaptada às regionalidades e realidades climáticas, esse tipo de seguro precisa ser visto como uma ferramenta de mitigação necessária frente aos desafios que as mudanças climáticas irão impor aos produtores do país nos próximos anos e décadas.

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