Willy Hagi
A Seca Silenciosa de 2022 na Amazônia
O carrossel do Clima continua a girar na Amazônia. Depois da sequência de duas das maiores Cheias já registradas na história, em 2021 e no começo de 2022, a situação se reverteu dentro do período da Vazante dos rios em boa parte da Região Norte do Brasil.

Secas são fenômenos climáticos extremamente complexos, o que torna um desafio estabelecer com consistência características como início, duração, severidade e fim de cada evento. Isso se torna ainda mais desafiador em uma região diversa como a amazônica, que está longe de ser um simples monolito verde climaticamente uniforme — muito pelo contrário.
É certo que 2022 vem se mostrando mais atípico do que o esperado em vários sentidos. Entre os dois primeiros meses de Janeiro e Fevereiro, parte da estação chuvosa que seria amplificada pela La Niña, uma falta momentânea de chuvas acabou por reduzir os níveis dos rios em boa parte da Amazônia Ocidental. Até o Rio Negro, que vinha em ascensão desde Novembro do ano passado, chegou a perder mais de 60 cm neste período e evitou com que o nível ultrapassasse o recorde centenário atingido em 2021.
O volume de chuvas abaixo da média histórica no Amazonas e na Região Norte em geral vem sendo observado de forma mais contínua desde meados de Junho a Agosto, o que dá cerca de quatro a cinco meses com precipitação menor que o normal. Outro fator que ajudou a intensificar a Vazante e configuração da Seca foi o registro de temperaturas altíssimas ao longo desses últimos tempos.

Atualmente, todos os municípios do Amazonas estão sofrendo o impacto da redução dos níveis dos rios em algum grau de severidade. Os mais afetados são os que estão distribuídos ao longo da Calha do Rio Solimões, como é o caso de Coari, Benjamin Constant e Tefé.
As imagens de alta resolução do satélite Sentinel 2 ao lado mostram o sumiço repentino do Lago de Tefé, de forma surpreendente e rápida em questão de um mês para outro entre Setembro e Outubro.
Isso faz com que esses municípios tenham que enfrentar uma série de problemas e dificuldades, como a própria falta de água, isolamento por falta de navegabilidade, racionamento e desabastecimento de bens de consumo. A Vazante deve continuar o seu curso dentro de mais algumas semanas, ainda que o início efetivo da estação chuvosa esteja cada vez mais próximo dependendo do volume de precipitação.
Uma lição prática dos últimos anos é que a Amazônia pode pular de um extremo climático para outro em questão de pouco tempo. Com a La Niña renovada, até no mínimo o primeiro semestre do próximo ano, não é possível por enquanto descartar as possibilidades de mais uma nova Cheia em 2023.