Willy Hagi
La Niña de novo!
Pela primeira vez ao longo dessas duas décadas do século 21, teremos a sequência de três verões austrais com eventos de La Niña ativos no Pacífico Tropical. É também a terceira vez que uma série desse tipo acontece desde 1950, sendo a última ocorrência registrada entre os anos de 1998 a 2001.
O que conhecemos como La Niña faz parte de um fenômeno climático maior chamado de El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que varia entre três fases diferentes com repercussões climáticas globais. A La Niña é a fase fria, ou negativa, enquanto o El Niño é a fase quente positiva e no meio do caminho há a condição de neutralidade — nem uma, nem outra.

Para entender esse vai e vem do ENOS, é importante ter em vista alguns dos índices climáticos que representam a variabilidade oceânica e atmosférica no Pacífico, como os conhecidos Niños e o Índice Oscilação-Sul.
Índices climáticos como esses servem como uma base para estabelecer critérios de monitoramento, que podem até mesmo ser ligeiramente divergentes entre uma agência e outra. Isso acontece com a estadunidense NOAA e o australiano Bureau of Meteorology, mas esse é um tópico para outro momento.
Em todo caso, é evidente que a La Niña está ativa no Oceano, bem representada por essas manchas azuis persistentes no meio do Pacífico Tropical nos mapas acima. Pela simplicidade, adotando o critério de -0.5 °C para as anomalias mensais de TSM do Índice Niño 3.4, podemos dizer que o ciclo atual de La Niñas teve início a partir de Agosto de 2020 até Abril de 2021, passando por um curto período de neutralidade nos meses seguintes. Logo depois, em Agosto do mesmo ano, o Pacífico Tropical voltou a se resfriar e deu-se o início da La Niña plurianual de 2021 que deve continuar até o primeiro semestre de 2023.

Seguindo a uma certa máxima de Klaus Wyrtki (1925-2013) de que nenhum El Niño é igual ao outro, nenhuma La Niña é igual à outra. Com o retrospecto recente e o que sabe-se da literatura científica, um episódio de La Niña costuma ser responsável por níveis de precipitação acima da média histórica na Região Norte. Esse padrão acende o alerta para mais uma grande Cheia dos seus rios, como foi o caso do Rio Negro em Manaus nos últimos anos. Afinal de contas, foi a La Niña a causa determinante da Cheia histórica de 2021, a maior em mais de um século de registros, bem como a Cheia de 2022 — a quarta maior.
Para o Sul-Sudeste do país, a continuidade da La Niña pode representar a sequência de mais um ano de Secas e mais prejuízos da ordem de milhões de reais para a agricultura e a geração de energias. A continuidade das Secas pode ser fatal para a produção de grãos, a cafeicultura, citricultura e outros setores agrícolas já fragilizados nessa parte do país.